AÇÕES

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Tragédias evitáveis

Por Marsílea Gombata
marsilea.gombata@folhauniversal.com.br


Depois de mais de 1 ano morando fora, o fotógrafo André Penteado recebeu a notícia de que seu pai havia se suicidado. O misto de dor e impotência o deixou em estado de choque. A quase 9,5 mil quilômetros de distância, queria encontrar um jeito de estar perto do pai novamente. O fotógrafo veio de Londres (Inglaterra) para São Paulo para o funeral e, mais tarde, mexendo nas roupas do pai, decidiu vestir suas calças, camisas e casacos para um ensaio de 50 fotos. “As roupas tinham o cheiro dele, a caspa do cabelo. Foi uma forma de me despedir fisicamente, já que estava longe quando tudo aconteceu”, lembra. Com problemas financeiros, José Penteado, que estava deprimido, se matou aos 72 anos, em 31 de janeiro de 2007. Deixou uma carta, na qual dizia que não conseguiria ficar dependente dos outros e não via muita saída para a vida. O drama de José está longe de ser exceção. Em termos populacionais, o Brasil ocupa o nono lugar na lista dos países com maior índice de suicidas do mundo. Hoje, ocorrem em média 24 suicídios diários em todo o País e 3 mil no mundo, além de 60 mil tentativas todos os dias.
E o aumento do número de pesoas que se matam vem assustando profissionais da saúde. É justamente pensando em alertar a todos que, no começo do mês, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) lançou uma campanha para prevenir e aconselhar pessoas com intenções suicidas. Vídeos de 30 segundos e livretos informativos distribuídos em estações de metrô serão as principais frentes da estratégia. “É preciso quebrar o tabu. É importante que as pessoas saibam que sentir vontade de se matar faz parte do agravamento de um quadro e que elas podem ser tratadas se forem atrás das causas que levaram a isso”, afirma Luiz Alberto Hetem, vice-presidente da ABP.Cerca de 90% dos casos de
suicídio no Brasil se devem a complicações decorrentes de transtornos mentais ou psiquiátricos, que, segundo especialistas, poderiam ser evitados com tratamento adequado. “Transtorno bipolar, depressão, dependência de álcool ou de outras drogas e esquizofrenia são as doenças mais comuns relacionadas ao suicídio”, explica Lena de Abreu, do Programa de Transtorno Bipolar do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP).
No País, o maior índice de mortes por suicídio acontece nas capitais. A taxa é maior entre os homens e costuma ocorrer com mais frequência na faixa etária dos 16 aos 35 anos. Foi justamente aos 35 anos que a mãe do escrevente Fábio Davidson tentou se matar pela primeira vez. Diagnosticada com esquizofrenia, ela tirou a própria vida anos depois. “É o tipo da dor que você não supera, só aprende a conviver”, diz Davidson.
Muitos dos que apresentam quadro inicial de depressão, como fraqueza, falta de ânimo ou de apetite, não fazem ideia de qual doença têm, procuram um clínico geral e não recebem o tratamento adequado. “O suicídio é um problema de saúde pública, pois é a terceira causa de morte no Brasil, atrás de acidentes de trânsito e homicídios”, diz Hetem. Quanto mais cedo se buscar ajuda, maiores são as chances de transtornos ligados ao suicídio serem tratados antes que seja tarde demais.

Um comentário:

  1. Infelizmente o transtorno bipolar tem elevado o número de suícidios no Brasil e no mundo. Eu creio que é possível mudar esse cenário com mais informações às pessoas. Principalmente aos cuidadores desses doentes. Parabéns pelo o texto e pelo blog. Os textos chamam atenção. Boa semana!

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