AÇÕES

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

FILME& DOCUMENTÁRIO

NUNCA ESQUECI O VELHO CHACRINHA!! Lembro que eu quando crinaça pensava: Esse vovô parece uma criança, eu acho que ele é uma criança!
É quase unanimidade considerá-lo um intuitivo genial

Alô, alô, Terezinha!

Documentário de Nelson Hoineff sobre o apresentador Chacrinha.

Nada mais merecido: antes mesmo de estrear, o documentário de Nelson Hoineff foi premiado no Festival de Cinema de Pernambuco com o troféu Gilberto Freyre (Prêmio de Identidade Nacional). Nada mais adequado, pois se trata de uma excelente contribuição para um melhor entendimento do que somos enquanto nação, na linha da recente eclosão de inúmeros documentários sobre os mais variados personagens e episódios de nossa tradição cultural. Decisivamente, estamos determinados a saber quem somos, de onde viemos e de que valores somos feitos. Não estamos mais dispostos a aceitar as velhas explicações sobre nossas raízes históricas e os impasses decorrentes de uma cultura de permissividade e impunidade.

Numa das canções-manifesto do tropicalismo “Aquele abraço”, Gilberto Gil apelidou Chacrinha de “o velho guerreiro, o velho palhaço que comandava a massa, balançando a pança, buzinando a moça, dando as ordens no terreiro...”

Seria uma interpretação apressada identificar a figura do portador da buzina como um ditador qualquer com o poder de fazer calar a expressão popular ou lhe alienar a consciência. Para outros intérpretes, diretores de televisão, críticos e artistas, é quase unanimidade considerá-lo um intuitivo genial que captava o gosto popular e só divulgava em suas discotecas quem ele realmente acreditava que estivesse em sintonia com o mesmo, revelando artistas de talento como Roberto Carlos, Fábio Jr., Biafra, Ney Matogrosso, Gonzaguinha, Raul Seixas, Fafá de Belém, Titãs e muitos outros que passaram a guardar devoção pelo velho animador de auditórios.

Mais original, o compositor Alceu Valença aponta em Chacrinha a reedição da figura do velho do pastoril, um velho histrião e safado do folclore das festas de natividade nordestinas, entre as quais os pastoris de Pernambuco, que se originam em autos religiosos medievais dedicados a celebração do nascimento de Cristo. Tendo se dividido em duas correntes, uma religiosa e familiar interpretada por castas donzelas da sociedade, e outra que funcionava como sua paródia de rua, foi exatamente nestes pastoris de rua que surge o velho libidinoso que tentava desencaminhar as pastorinhas interagindo com populares através de “bailes” e pilhérias. Divididas em dois cordões, pastorinhas azuis e encarnadas narravam suas jornadas sobre a visita ao Nosso Senhor Jesus nascido em Belém, e a luta entre o profano e o sagrado, entre o burlesco e o religioso, entre a tentação pelo desvio do caminho e a obediência à fé. Não por acaso, José Abelardo Barbosa de Medeiros, o Chacrinha (1917 – 1988) nascido em Pernambuco, veio pro Rio durante a primeira grande guerra, onde trabalhou inicialmente como locutor de rádio para ganhar a vida, tendo depois alcançado a televisão para se consagrar como o primeiro grande comunicador da mídia de massa no Brasil, o palhaço do povo, como ele mesmo se definia, ou “o menino levado da breca” como cantava o prefixo musical de seus programas. Programas de calouros e de divulgação da MPB, como a Discoteca do Chacrinha, a Buzina do Chacrinha e o Cassino do Chacrinha que foram sucesso em todas as emissoras nas quais trabalhou, TV Tupi, TV Rio, TV Bandeirantes e TV Globo.

A origem de seu apelido remonta à década de 40 quando começou na Rádio Clube de Niterói, em Icaraí, numa chácara da emissora, onde, entre gansos e galinhas, recebia seu público de cuecas e com um lenço na cabeça, sempre com estilo irreverente e debochado. Acabou por assumir o apelido do nome do próprio programa “O Rei Momo na Chacrinha”, que entrava no ar às 11 da noite por ser impróprio para menores. Com o passe disputado, pulou de uma emissora para outra, até estrear na TV Tupi em 1957.

A partir da criação de seu personagem, Abelardo Chacrinha Barbosa, não só abriu espaço de ascensão profissional e social para si, como para calouros que se consagraram como grandes artistas populares. Mas abriu um canal de expressão, sobretudo para populares que se pretendiam artistas ou simplesmente queriam aparecer ou testar suas fortunas. Foi mais provedor de oportunidades do que de benefícios sociais. E neste sentido, caminha na contramão de nossos políticos demagogos, pois os denuncia como falsos profetas provedores de assistência social, ao mesmo tempo em que se revelam todos como velhos lascivos de maus costumes e desencaminhadores do povo.

Vale atentar para a visão do filme pelo seu próprio diretor: “se vivesse hoje, Chacrinha não passaria nem da portaria das emissoras. Ele com certeza seria barrado por qualquer yuppie politicamente correto em cargo de chefia. Se Chacrinha ganhou todas as batalhas por um pouco mais de criatividade na tevê brasileira, a mesma já perdeu há muito tempo a guerra contra a mediocrização.

Vide Faustão, o sucessor de Chacrinha nas tardes de domingo de nosso circo da mídia de massa, que, menino bem comportado, não esfrega na cara do calouro o seu ridículo de carecer e necessitar aparecer, a sua demanda pelo sucesso fantasioso e a fortuna providencial, mas também não lhe aponta que a primeira condição de emancipação do cidadão é perceber o ridículo dos poderosos que na verdade só querem manter seus privilégios às custas da nossa própria miséria de representação política.

Vale a pena conferir e acessar:

http://www.youtube.com/watch?v=tSvakpCdk4M
http://www.youtube.com/watch?v=5-HiKfBBkU8
http://www.youtube.com/watch?v=NfRmFyYlSZE
http://www.youtube.com/watch?v=smw-sz3kWnU
http://www.youtube.com/watch?v=jFLe31sbxB8&feature=related

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