AÇÕES

sábado, 30 de outubro de 2010

12 coisas que eu aprendi sobre funerais

Recentemente perdi alguém importante e passei pela experiência de um funeral.

A não ser que você morra antes disso, durante a sua vida você também passará pela experiência de um funeral desse tipo – ou mais, provavelmente.

A não ser também que não goste de ninguém e não tenha entes queridos.

Por isso, quero compartilhar algumas coisas que aprendi e de que, no momento, consigo lembrar.

1. Um funeral é realizado para os vivos. Tenha certeza de que o morto não liga para essas coisas. Quando se fala em homenagear a memória do morto, refere-se à memória que os vivos têm do morto. Se os mortos têm memória, isso a partir dali é problema dele. Por outro lado, se o morto também precisar lidar com a perda, você também já não tem nada a ver com isso.
2. Muita gente virá lhe falar coisas – algumas delas íntimas – e, depois, você vai se perguntar, “afinal, quem é esse sujeito que veio falar comigo?”. Quase todos irão tratá-lo como um antigo conhecido independentemente disso. De certo modo, isso não está errado, pois a morte e a dor por ela causada são bens igualitariamente distribuídos entre todos os humanos.
3. A vida também é igualmente distribuída entre todos, mas nem todos fazem tão bom uso dela: logo a empatia não é a mesma nas celebrações da vida e, por isso, nessas ocasiões não é tão comum que pessoas que você não conhece lhe tratem dessa maneira – como se o conhecessem -, com tanta freqüência quanto em um funeral.
4. Depois que alguém morre, alguns aspectos – podem ser bons, podem ser maus (depende) – que você não conhecia dessa pessoa aparecem. Afinal, ela não está mais presente no mundo para controlar os seus segredos, que então passam a pertencer a todos. Alguns desses aspectos podem vir à tona já durante o funeral.
5. Chega um momento em que uma rodinha de parentes se forma do lado de fora da capela, para contar piadas ou histórias que não têm nada a ver com o morto. Nem mesmo uma pessoa absolutamente morta no meio de uma sala, dentro de uma caixa de madeira, cercado por velas e coberta por flores consegue ser o centro das atenções o tempo todo. Acho que há uma lição a se tirar disso.
6. Algumas famílias só conseguem se reunir integralmente em funerais. Releia os itens 2 e 3 e você entenderá porque a morte, na maioria dos casos (não é uma regra absoluta), consegue aproximar mais do que a vida.
7. Em determinado ponto, você vai se sentir como se estivesse desempenhando um papel que já viu outro filho, filha, esposo ou esposa desempenhar em outro funeral. Talvez tenha medo de, como um dos protagonistas da situação, estar fingindo: mas não se preocupe isso é apenas você percebendo-se subitamente igualzinho a todos os humanos.
8. Alguém – provavelmente mais de uma pessoa – falará que o defunto aparenta apenas estar dormindo. De fato, por mais que você saiba que o defunto é isso, um defunto, e por mais racional que se seja, você terá a sensação extremamente real de que ele levantará dali a alguns instantes, pedirá um café e voltará para casa com você.
9. Independentemente do tamanho de sua tristeza, se você participa e acompanha integralmente o funeral, você sente uma estranha sensação de alívio ao final, quando o caixão é enterrado ou o forno crematório é ligado.
10. Durante o funeral você não fica triste o tempo todo. Provavelmente você irá se juntar em algum momento à rodinha de amigos e parentes do lado de fora da capela para contar uma piada.
11. Quando alguém muito próximo morre, você tem uma pálida noção de que esse negócio de morte pode ser sério mesmo e, ei, quem sabe, um dia, possa acontecer com você também. Talvez seja hora de começar uma vida decente.
12. De fato, quando se chora o fim da vida de um ente querido – ou mesmo de um semelhante desconhecido -, o verdadeiro fundo desse choro, é por nossa própria morte individual e coletiva, nele revelada. Acho que eu já disse que um funeral não se realiza pelos mortos, mas pelos vivos, não disse?
Segundo o poeta renascentista John Donne:

Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano.

E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.
((Autor:Alessandro Martins))

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